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General Topics

Tutorial 2

Metodologia Científica Tutorial De Anestesia Da Semana

Dr. João Felipe Schadeck Locatelli

Correspondencia para sba@sba.com.br

2nd DECEMBER 2014

INTRODUÇÃO E VISÃO GERAL SOBRE O TEMA

Método científico é um modo sistematizado de desenvolver experiências com objetivo de produzir novos conhecimentos. Deve ter regras básicas de tal forma que o estudo em questão seja passível de reprodução.

Metodologia científica nada mais é do que o estudo destas regras que devem ser seguidas para a pesquisa científica

A origem para uma pesquisa é a ausência de um determinado conhecimento na literatura. Realizar uma pesquisa, inicialmente, requer um planejamento .

PLANEJAMENTO

O planeamento se baseia em três itens principais: A dúvida, a pergunta e a hipótese.

A dúvida é o início da formulação da pesquisa, geralmente retirada de um questionamento vindo da prática, da observação e reflexão do pesquisador.

A partir da reflexão, temos a pergunta que se objetiva responder. Então, temos a hipótese, que é a resposta a esta pergunta, ou seja, o objetivo.

A escolha do assunto é a primeira etapa. Deve-se levar em conta detalhes como experiência do pesquisador, aptidões e relevância do conhecimento a ser buscado. Avalia-se neste primeiro momento a viabilidade do estudo, os recursos materiais, econômicos e pessoais.

A avaliação da literatura, o conhecimento prévio acadêmico, são importantes neste momento. Diversos assuntos já foram estudados e muito dos questionamentos que temos podem já ser respondidos. A reprodução dos estudos é uma coisa válida e inevitável, porém pode levar a um momento de discussão interminável ou repetição de um conhecimento já estabelecido.

Com este passo inicial, deve-se estabelecer claramente o problema. O problema não pode ser confundido com o tema da pesquisa, ou o assunto geral que se quer buscar. Para tal, deve ser clara, precisa e única. Isso auxilia muito na elaboração e no desenvolvimento do trabalho. Apesar de surgirem outras dúvidas no transcorrer do trabalho, este objetivo principal deve ser sempre buscado.

Existem cinco características que devem ser observadas. Se o estudo é factível, Interessante, inovador, ético e relevante. (acrônimo FINER )

O passo seguinte se refere a buscar na literatura o conhecimento prévio sobre este tema. Por meio da literatura, é possível que o pesquisar tenha um contato real com o conhecimento prévio, avaliar a busca por uma resposta em contraste com o que já se sabe, avaliar quais as ferramentas utilizadas por outros autores, moldar sua pesquisa com a realidade e compreender a relevância dos estudos. Pode-se deduzir a partir da pesquisa científica prévia qual as implicações e a relevância deste novo conhecimento que se busca.

Definir objetivo claro é a próxima etapa. E dentro do principal objetivo tem-se a hipótese. A hipótese é uma dedução do resultado. Hipóteses não são perguntas, e sim afirmações.

A hipótese nula, ou H0, é quando acreditamos que as duas médias do estudo sejam iguais, ou seja, que não há diferença observada. Já o H1, ou hipótese alternativa, é quando temos sim uma diferença, ou seja, quando sua média caiu fora dos limites estabelecidos como aceitáveis, ou normais.

Protocolo é a organização de todos os itens que foram discutidos até então, colocados de uma forma organizada e clara. No protocolo as dúvidas , objetivos, aspectos éticos e legais, riscos, instrumentos sobre a pesquisa científica em si são esclarecidas. É um documento necessário, que ajuda a definir e esclarecer estes itens acima citados

Todos os estudos científicos devem respeitar leis pré estabelecidas pela comunidade científica sobre ética/bioética. Para isto, os centros de ensino e pesquisa tem um comitê formado por profissionais graduados de várias áreas que representam a comunidade científica.

No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde normatizou as pesquisas na área de saúde e passou a exigir que qualquer estudo passe por um comitê examinador e avalie claramente suas características.

O código de ética médica brasileiro define restrições as pesquisas. Em seus artigos, define que qualquer pesquisa  em seres humanos sem sua devida aprovação é proibida, e deve-se deixar claro seus riscos e benefícios. Para menores de idade, além do consentimento de seu representante legal, o assentimento da pessoa a ser pesquisada, de acordo com seu grau de compreensão, deve ser obtido. É proibido a realização de pesquisas me humanos com fins políticos, bélicos, étnicos e eugênicos, em seres humanos que estejam direta ou indiretamente subordinados aos pesquisadores e a dependência com financiadores a pesquisa.

Todo e qualquer participante de um estudo deve estar ciente da sua participação e autoriza a utilização de informações relevantes para o estudo. O Consentimento Livre e Esclarecido é a ferramenta legal que autoriza o pesquisar a realizar o estudo. Deve-se ficar claro que sua adesão é espontânea, que existem riscos potenciais e que o participante poderá ser alocado no grupo intervenção ou placebo, de acordo com a randomização, no caso de estudo tipo ensaio clínico.

A realização de pesquisas científicas em animais também deve seguir regras e normas. Em 1978 a UNESCO ( United Nations Educational, Scietific and Cultural Organization ) aprovou a declaração dos direitos dos animais. Dentre os direitos, há definições para a ausência de sofrimento ou angústia na realização de qualquer ato científico, inclusive no momento do óbito. Todo estudo deve também ser avaliado pelo comitê de ética e pesquisa em animais de cada instituição.

A bioética pode ser definida como nada mais do que a Ética aplicada na prática, ou seja, a ética em nossas ações, pensamentos e em nossos atos. Os princípios básicos são: A beneficiência, a não maleficiência, autonomia e justiça.

Em 1964, a associação médica mundial redigiu a Declaração de Helsinki, na qual afirma os conceitos éticos que regem as pesquisas em seres humanos. Todos os pontos citados até então referentes a bioética são enquadrados nesta declaração, que é revisada de tempos em tempos. Ela confere ao médico a total responsabilidade sobre seus atos sempre visando ações conscientes, resguardando a liberdade, autonomia e direitos dos participantes.

TIPOS DE ESTUDOS

Os estudos podem ter diversas características, dependendo da amostra, da obtenção dos dados, das características da publicação, da intervenção, etc.

Dos estudos mais comuns observados, temos:

  • Relato de Caso
  • Caso-controle
  • Coorte
  • Transversal
  • Estudo clínico controlado casualizado
  • Ensaio clínico cruzado

E as revisões

  • Não sistemáticas
  • Sistemáticas
  • Metanálise

E a partir destes, podemos obter os Guidelines ou diretrizes, que dão orientação a prática médica

De acordo com o tempo da observação e sua progressão, a pesquisa pode ser classificada como Prospectiva ou retrospectiva

Dentre os estudos mais importantes, temos o estudo de coorte. Neste tipo de estudo, um grupo de pessoas é acompanhado no passar do tempo, com exposição única, repetida ou permantente do fator de risco. Ele pode ser prospectivo, onde os participantes são selecionados e acompanhados ao longo do tempo ou retrospectivo, onde o contato com o fator de risco se deu no passado e o desfecho é observado no momento atual. É um estudo muito interessante para doenças comuns e freqüentes, porém como desvantagem apresenta um custo elevado, tempo, perda no follow-up, e incapacidade de avaliar doenças raras.

Logo, deve-se ter alguns cuidados ao realizar um estudo assim. Os participantes devem ser representativos tanto em numero quanto características da amostra, deve-se ter especial atenção ao acompanhamento e evitar ao máximo as perdas no seguimento.

O cálculo dos resultados são feitos pelo Risco Relativo, que se dá pela razão entre a incidência dos expostos dividido pela incidência dos não-expostos.

O resultado é lido a partir da quantidade aumentada ou diminuída do risco de um desfecho em comparação ao grupo não exposto.

O estudo transversal é aquele em que se observa a presença de um fator de risco e desfecho no mesmo momento. Não há acompanhamento, não há perdas, custo é menor e exige menos disponibilidade de tempo e pessoal. Neste estudo, o resultado é a prevalência, e não a incidência. Pode-se obter uma razão de prevalências com este estudo, ou seja, uma comparação de prevalência entre dois grupos estudados.

O estudo tipo caso-controle é a inversão temporal do estudo de coorte. A partir de um desfecho, compara-se os fatores causais ou fatores de risco. Para melhor entendimento, deve-se associar este tipo de estudo com doenças raras, onde se observa então a presença ou ausência de fator de risco.  Para este tipo de estudo se utiliza a razão de chance, ou Odds Ratio. Não é um estudo que determina a incidência ou prevalência de uma determinada doença, e sim a magnitude da associação entre um fator de risco e doença.

O relato de caso é um estudo de um único paciente, geralmente associada a alguma raridade ou peculiaridade. Pode-se gerar diversos relatos de caso quando se pesquisa uma doença.

O ensaio clínico já é um estudo experimental e não observacional. A intervenção do pesquisador é que vai definir se um participante vai ter ou não a exposição ao fator de risco. São estudos fáceis de serem identificados. Tem grande poder estatístico, visto estas características. Ele pode ser controlado ou nãocontrolado, aleatório ou não aleatório. A aleatoriedade da amostra, ou randomização, é uma característica muito importante, pois proporciona ao estudo uma redução na influência do pesquisador. Logo, evita-se o viés ( ou erro ) de seleção, ou alocação. Quanto menos pessoas estiverem cientes da alocação dos participantes, melhor. Isto chama-se cegamento e evita que o pesquisador tenha uma avaliação tendenciosa visando um ou outro resultado.

O tamanho da amostra é de extrema importância, pois quanto maior for o número de participantes, maior é a veracidade do resultado. A realização de um estudo em diversos centros ( chamado de multicêntrico ) é também aceita e dá maior confiança ao estudo. Porém deve-se tomar maiores cuidados, principalmente relacionados a metodologia utilizada em cada centro.

Tem como desvantagens o custo, a disponibilidade de tempo e pessoal, o seguimento e aspectos éticos. O ensaio clínico cruzado ( ou crossover ) é um estudo igual ao acima citado porém após determinado tempo, os grupos placebo e intevenção se invertem. Assim, o número necessário de pacientes para o estudo se reduz pela metade, porém o tempo duplica. Além disso, pode ser que o grupo que participou da intervenção primeiramente apresenta resquício do tratamento, o que se chama  efeito carryover.

A Revisão sistemática e metanálise são dois tipos de avaliação que agrupam diversos estudos e a partir das informações obtidas, geram confiabilidade ao assunto estudado. Para ser considerada sistemática, deve-se respeitar critérios definidos da identificação e classificação dos artigos relevantes incluídos. Quando esta revisão apresenta alguma análise estatística, é chamada de metanálise.

A metanálise tem por objetivo aumentar o tamanho da amostra ao incluir diversos estudos e a partir destes examinar e realizar outros testes estatísticos para obter maior poder analítico.

Nestes tipos de estudos, os dados importantes de cada estudo são apresentados em uma tabela, e de acordo com a amostra, o intervalo de confiança e o poder analítico de cada estudo, é montada uma tabela chamada de Forest plot. Com esta tabela pode-se obter um resultado único ( ou um resultado que reflete a junção dos vários resultados ) que teoricamente é mais fidedigno do que um estudo isolado.

VARIÁVEIS

Variável, em termo de estudo científico, significauma característica de interesse. Esta pode ser de diversas formas:

  • Nominal ou Categorica. É utilizada para medir características sem valor numérico, como gênero.
    Quando temos duas possibilidades somente ( sim ou não ), a escala se chama dicotômica ou binária
  • É utilizada para medir características que possuam ordem subjacente, como o escore ASA
  • Numérica. Usado para medidas de valores numéricos. Pode ser contínuas quando as medidas podem assumir valores com frações decimais, como por exemplo a temperatura. Ou são chamadas de discretas, quando é possível obter somente números inteiros , como por exemplo o número de vezes que o paciente apresentou episódios de vômitos no pós operatório.

De acordo com as variáveis, podemos escolher o melhor teste estatístico a ser utilizado. Dados que apresentam uma distribuição normal na população apresentam um formato de sino e 95% da população apresenta-se na faixa entre dois desvios-padrões acima e abaixo. É o que chamamos de distribuição “gaussiana”. É importante saber disso, pois quando há este tipo de distribuição, os testes a serem empregados serão os testes paramétricos.

TESTES ESTATÍSTICOS

Para se ter uma idéia da distribuição de determinada característica na população, podemos dispor de testes como o teste de Kolmogorov-Smirnov ou W de Shapiro-Wilks. Se há um valor de p menor do que a porcentagem determinada, a distribuição é considerada normal e os testes a serem usados serão os paramétricos.

Pode-se submeter os dados sem uma distribuição normal para logaritmos nos quais a análise se torna mais fidedigna.

O teste t de student é usado para distribuição numérica  e distribuição normal. O teste qui-quadrado é usado para escalas nominais.

Para escalas ordinais, o teste mais frequentemente utilizado é o teste Mann-Whitney e  teste Wilcoxon pareado.

Para variáveis numéricas é utilizado uma medida de tendência central ( média ou mediana ) e sua respectiva medida de dispersão ( desvio padrão ). Para escala nominal, geralmente se utiliza a freqüência ( ou percentagem ) e para medidas ordinais a mediana.

Uma variável pode ser dependente ou independente de acordo com a intervenção.  Este dado é importante pois ele vai definir em qual momento da análise estatística uma variável pode ou não ser considerada.

O cálculo de algumas informações estatísticas:

Para avaliar a dispersão de dados obtidos em um estudo pode-se utilizar a variância, que é a subtração da média geral para cada resultado. A partir daí, temos o cálculo do desvio padrão, que é a raiz quadrada da variância e nos indica em  qual temos uma percentagem de indivíduos fora. Por exemplo, se utilizarmos um desvio padrão de 2, teremos uma faixa de 95 % dos indivíduos dentro desta faixa.

Dentre os resultados obtidos, podemos obter alguns erros. O erro tipo alfa, ou tipo I, é quando há rejeição da H0, porém ela é verdadeira. Isso quer dizer que o resultado apontou uma diferença, porém ela não existe. É o que podemos chamar de falso positivo.

Já o erro tipo II, a H0 foi aceita, porém isto não é verdadeiro. Isso quer dizer que os resultados não mostraram diferença, porém, na realidade, há sim uma diferença. Também chamado de erro beta.

REFERÊNCIAS

  1. SAESP – Tratado de anestesiologia 7a Edição Cangiani LM et al., 2011.” Cap 8 – Metologia Científica
  2. Manual de metodologia científica – FMI http://www.aisi.edu.br/userfiles/file/Manual%20Metodologia.pdf
  3. Clinical Anasthesia 2nd Edition, Blackwell Publishing, Gwinnut C et al. 2004
  4. Metodologia clínica na investigação clínica – Universidade Positivo www.medicina.med.up.pt/im/im2004/teoricas/tq1.ppt
  5. Artigo “Bioética e anestesia: um estudo reflexivo de publicações da Revista Brasileira de Anestesiologia” Oliveira dos Santos MF et al. Rev. Bras.
  6. Anestesiol. vol.61 no.1 Campinas Jan./Feb. 2011
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