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General Topics

Tutorial 434

Informações Básicas sobre Máscaras e Respiradores

Jeffrey Yin Lam Yam1, Andy Chi Keung Ng2

1 Residente em Anestesiologia, Queen Mary Hospital, Hong Kong

2 Consultor Associado em Anestesiologia, Queen Mary Hospital, Hong Kong

Editado por: Dra. Clara Poon, Consultora em Anestesiologia, Queen Mary Hospital, Hong Kong

Email do autor correspondente: yyl254@ha.org.hk

Tradução e supervisão pela Comissão de Educação Continuada / Sociedade Brasileira de Anestesiologia

Published October 13, 2020

PONTOS CHAVE

  • O SARS-CoV2 é principalmente transmitido via gotículas e rotas de contato, porém já há evidências a respeito de transmissão pelo ar.
  • Máscaras cirúrgicas e respiradores são recomendados para prevenção contra a disseminação de gotículas e contração de COVID-19.
  • O material que compõe as máscaras é o “tecido nâo tecido” (TNT), formado por polipropileno spunbound e meltblown. A eficiência da filtração depende da capacidade da camada de filtração, que é feita deste material, de filtrar partículas e bactérias (um fator chave que determina o seu nível de classificação).
  • O uso prolongado, a reutilização limitada e a descontaminação de respiradores têm sido sugeridos como métodos para conservar os estoques durante a pandemia atual de COVID-19.

INTRODUÇÃO

A pandemia recente de COVID-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV2, levou o mundo a uma escassez de equipamentos de proteção individual (EPI) para profissionais da saúde, especialmente máscaras. Houve muita confusão em relação às diferenças entre os diversos tipos de máscaras e suas recomendações de uso em diferentes ambientes de assistência médica. Neste tutorial, revisamos os diferentes modos de transmissão de patógenos respiratórios com ênfase específica na COVID-19. Além disso, descrevemos a estrutura básica de vários tipos de máscaras, recomendações de uso e sugestões para conservação. Em face à continuidade da pandemia e à consequente escassez de EPIs, a sua conservação é de importância máxima, desde que preservada a segurança.

TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS

A transmissão de patógenos exige três componentes: uma fonte, um hospedeiro suscetível e um modo de transmissão.1 Dependendo do patógeno, o modo de transmissão varia.

Transmissão por Contato: Direto Versus Indireto

A transmissão direta ocorre quando microorganismos são transferidos de um indivíduo infectado para um indivíduo suscetível através do contato físico. A transmissão por contato indireto ocorre quando não há contato direto entre seres humanos. Há um objeto intermediário que transmite o microorganismo.

Transmissão Respiratória: Gotículas Versus Aerossol Versus ‘Pelo Ar’

Gotículas contendo patógenos infecciosos podem ser geradas via tosse, espirro ou ao falar. A maior parte das gotículas é grande demais para permanecer em suspensão no ar por um longo período de tempo e irá rapidamente se assentar. Partículas de gotículas de,5-10 lm de diâmetro são transmitidas dessa forma.

Tabela 1. Exemplos de Procedimentos Médicos Geradores de Aerossóis

 

Um aerossol é uma gotícula mais fina (,5-10 lm) que pode permanecer suspensa no ar quando as velocidades da corrente de ar excedem as velocidades terminais das partículas. Alternativamente, as gotículas podem evaporar antes de caírem ao chão, deixando núcleos ainda menores de gotículas livres para flutuarem por longas distâncias. Em tais situações, os patógenos são considerados ‘transmissíveis pelo ar’. A transmissão pelo ar é definida como material infeccioso seco menor que 5 lm que pode viajar em correntes de ar por distâncias consideráveis.

A distância que uma gotícula pode alcançar e resultar em transmissão de doença depende dos seguintes fatores:

  • a velocidade e o mecanismo pelo qual é impulsionada;
  • a densidade das secreções respiratórias e carga infecciosa da secreção;
  • fatores ambientais como fluxo de ar concomitante, temperatura e umidade; e
  • a capacidade do patógeno de manter a infecciosidade ao longo dessa distância.

Aerossóis respiratórios são criados naturalmente ou durante procedimentos geradores de aerossóis (ver abaixo). Eles podem carregar o patógeno diretamente do trato respiratório do portador para as superfícies da mucosa do recebedor. As evidências que corroboram tal transmissão advêm de estudos epidemiológicos de surtos de doenças como o surto de SARS-CoV, bem como de estudos experimentais sobre a dinâmica de aerossóis.

Os procedimentos geradores de aerossóis (PGAs) são procedimentos médicos que criam aerossóis, além daqueles que o próprio paciente cria durante a respiração normal, tosse, espirro e fala. Eles podem produzir gotículas grandes e pequenas e, se isso ocorrer em uma concentração alta o suficiente, podem causar transmissão oportunista pelo ar de micróbios que, de outra forma, não seriam comumente disseminados pela rota aérea (ex., SARS-CoV2, influenza). Exemplos de PGAs estão demonstrados na Tabela 1.3 É importante observarmos que os aerossóis são comumente gerados como uma mistura de gotículas pequenas a grandes.  Sendo assim, a distinção entre a transmissão por gotículas e a transmissão pelo ar deve ser vista como um espectro ao invés de duas entidades dicotomizantes. Em resumo, o vírus SARS- CoV2 pode ser disseminado por contato direto ou indireto, via gotículas e aerossóis, com evidências crescentes que corroboram a hipótese de transmissão pelo ar.4

MÁSCARAS CIRÚRGICAS

Uma máscara facial é uma máscara que cobre o nariz e a boca do usuário e pode ou não obedecer os níveis de barreira contra fluidos ou eficiência de filtração. Em contrapartida, uma máscara cirúrgica é uma máscara descartável, de ajuste frouxo, que cobre o nariz e a boca do usuário e cria uma barreira física contra fluidos e outros materiais particulados. Ao contrário do que se pensa, ela é projetada para limitar a disseminação expiratória de gotículas do usuário para o seu entorno. Entretanto, uma revisão sistemática recente sugere que o uso de máscaras cirúrgicas pode evitar que indivíduos infectados transmitam patógenos expiratórios para indivíduos não infectados.5 A implementação do uso disseminado de máscaras cirúrgicas ainda é controversa, sendo necessários mais estudos sobre o assunto.

Composição das Máscaras Cirúrgicas

As máscaras cirúrgicas são compostas por camadas múltiplas de tecido. Geralmente chamadas de configuração SMS ou design de três folhas. SMS significa spunbond-meltblown-spunbond e descreve a técnica de fabricação das três camadas.   (Figura 1)6:

Figura 1. Foto em aumento das 03 camadas diferentes de nãotecido.

 

  • Camada externa: camada de nãotecido de polipropileno spunbond tratado com repelente hidrofóbico
  • Camada média: camada de nãotecido filtrante de polipropileno meltblown
  • Camada interna: camada de nãotecido de polipropileno spunbond tratado com surfactante hidrofílico.

As características destes materiais são as seguintes:

  • Polipropileno spunbond (de filamentos contínuos termossoldados): Os polímeros são extrudados através de uma fieira, formando uma manta a partir de filamentos finos de polipropileno. A folha de nãotecido é então submetida à calandra, na qual é comprimida e submetida a tratamento térmico (Figure 2).
  • Polipropileno Meltblown: Jatos de ar quente em alta velocidade são usados para fazer a extrusão dos polímeros de polipropileno em filamentos ainda mais finos. À medida que os filamentos se sobrepõem, o material fica mais espesso para formar a camada filtrante (Figura 3).
  • O material spunbond possui boa resistência e durabilidade, bem como excelente resistência à umidade e resistência térmica. Por outro lado, o material meltblown possui propriedades de resistência à tração relativamente fracas, porém com excelentes propriedades de filtração, absorção e barreira devido à menor fibra e à maior área de superfície acumulada. A técnica de sobreposição destes dois materiais é fácil de ser realizada, é econômica e resulta em uma máscara com boa eficiência de filtração bacteriana e permeabilidade ao ar. Com a adição do tratamento com repelente e surfactante, a prevenção contra transmissão de gotículas é maximizada.
  • Além do polipropileno, materiais alternativos podem ser usados na fabricação de nãotecido, como polietileno, poliésteres e material à base de celulose.

 

 

Figura 2. Polipropileno Spunbond: é extrudido através de uma fieira giratória. Múltiplas fibras são dispostas em camadas e depois recebem tratamento de aquecimento por compressão através de um processo chamado calandragem

 

Figura 3. Meltblown: Jatos de ar quente são usados para fazer a extrusão do polipropileno em filamentos finos de fibra. As fibras são então dispostas em um tambor giratório, formando uma fina folha de nãotecido

 

Avaliação e Classificação de Máscaras

Uma vez fabricadas, recortadas e adaptadas ao formato de uma máscara cirúrgica, esses nãotecidos são submetidos a ensaios de acordo com os seguintes critérios7:

  • Eficiência de filtração bacteriana: Aerossóis contendo a bactéria Staphylococcus aureus são impulsionados até as máscaras a uma taxa e volume controlados. Uma eficiência de filtração mínima de 95% é exigida.
  • Eficiência de filtração de partículas: Aerossóis de microesferas de poliestireno medindo 0.1 a 5 lm são borrifados nas máscaras para assegurar que as máscaras consigam filtrar partículas de diversos tamanhos. O percentual indica a taxa de eficiência de filtração da máscara para partículas.
  • Resistência à respiração: Este ensaio é feito soprando ar em direção à máscara e medindo a diferença de pressão de ar em ambos os lados da máscara. A unidade de medida é mmH2O/cm2.
  • Resistência a respingos: Sangue sintético é forçado na superfície da máscara para assegurar que o líquido não consiga penetrar e contaminar o usuário. A pressão de ensaio usada é semelhante à pressão arterial humana.
  • Inflamabilidade: Todas as máscaras devem ser resistentes a chamas para evitar risco de incêndio.
  • Alergenicidade: As máscaras devem ser testadas de acordo com uma norma internacional (ISO 10993-5,10) com relação à sensibilidade cutânea.8
  • Limpeza microbiana: As máscaras são fabricadas em um ambiente limpo e controlado de modo a manter a contagem microbiana viável total (cfu/g) na superfície o mais baixa possível.

Com base nos resultados dos ensaios acima, as máscaras são classificadas em diferentes níveis. As Tabelas 2 e 3 descrevem as classificações de acordo com as normas americana e européia, respectivamente.

RESPIRADORES FACIAIS COM FILTRO

Um Respirador Facial Filtrante (FFR) é um dispositivo respiratório protetor usado para cobrir o nariz e a boca do usuário de modo a ajudar a reduzir a exposição do usuário a partículas biológicas patogênicas suspensas no ar. Ao contrário de uma máscara cirúrgica, seu desenho permite um melhor ajuste facial e filtração eficiente de partículas suspensas no ar.

Tabela 2. Sociedade Americana de Ensaios e Materiais (ASTM) F2100-11 (2011) Define Máscaras em 3 Níveis

 

Tabela 3. Norma Européia EN 14683 Define Máscaras em 3 Tipos

 

Composição dos Respiradores

Respiradores descartáveis como os comumente usados N95 ou FFP2 geralmente são compostos por quatro camadas.9

  • Camada externa: camada de nãotecido hidrofóbico de polipropileno spunbond com tratamento repelente.
  • Camada de pré-filtração: material nãotecido que é perfurado por agulha em conjunto e submetido a tratamento térmico, formando uma camada mais espessa e mais rígida que pode então ser moldada na forma desejada. Alguns fabricantes utilizam material à base de celulose para esta camada, que tem implicações diferentes quando se trata de descontaminação (ver abaixo).
  • Camada de filtração: Camada de nãotecido polarizada de polipropileno meltblown, o que determina a eficiência de filtração do respirador.
  • Camada interna: camada de nãotecido hidrofílica de polipropileno spunbond tratado com surfactante.

Embora o processo de fabricação seja semelhante ao das máscaras cirúrgicas, os respiradores possuem maior eficiência de filtração com um fator de forma que permite uma melhor vedação ao redor do rosto. (Tabela 4). São desenhados para proteger o usuário contra partículas suspensas no ar e gotículas respiratórias mais finas. São especialmente recomendados quando há expectativa de alta concentração de aerossóis e gotículas.

Classificação dos Respiradores

Os respiradores são classificados conforme segue:

  • Características de barreira e eficiência de filtração;
  • Grau de resistência a óleo do filtro;
  • Como são desenhados para serem usados.

Características da Barreira e and Eficiência de Filtração

Os respiradores são submetidos a uma série de ensaios para determinar sua classificação e certificação. Os critérios de ensaios são semelhantes entre os diferentes órgãos normatizadores, porém podem variar de acordo com seus limites mínimos (cutoffs) As normas mais comumente usadas para FFRs são a norma americana NIOSH- 42CFR84 (Tabela 5) e a europeia EN 149-2001 (Table 6).9 Os dois FFRs mais reconhecidos certificados por estas duas normas são o  N95 e o FFP2. O KN95 (GB2626-2006) de fabricação chinesa vem ganhando popularidade devido ao aumento da demanda, porém mais ensaios podem ser justificados para estabelecer sua confiabilidade.10

Grau de Resistência a Óleo do Filtro

Séries

O Instituto Nacional Americano para Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH) classifica os filtros de respiradores em três séries com base na resistência a óleo :

  • Série N filtram partículas sólidas e à base de água;
  • Série R são resistentes a óleo;
  • Série P são à prova de óleo.

 

Tabela 4. Comparação Entre Máscara Cirúrgica e Respirador (Reproduzido de CDC Infographic)

 

Partículas à base de água são responsáveis pela transmissão de doenças; portanto, a série N é mais adequada para a maioria dos ambientes de assistência médica.

Avaliação de Respiradores

Antes da realização do ensaio, os respiradores são condicionados a 388C e 85% de umidade relativa por 24 horas. Após o condicionamento, são submetidos a ensaios em relação aos seguintes critérios¹¹ (Tabela 7):

  • Eficiência de filtração: Para testar a penetração de partículas utiliza-se aerossol de cloreto de sódio neutralizado por carga elétrica com diâmetro médio de 0,3 lm. A eficiência de filtração é relatada em termos de porcentagem de partículas filtradas.
  • Vazamento: O vazamento para dentro é avaliado, uma vez que deve ser o mais baixo possível para evitar exposição a doenças transmitidas pelo ar. Um vazamento para dentro de 8% ou menos é aceitável. Entretanto, isto é exigido somente pelas normas européia e chinesa.
  • Taxa de fluxo: O respirador é avaliado quanto ao movimento rápido de ar para dentro e para fora para que o usuário possa usá-lo com facilidade mesmo com respiração pesada/rápida. Uma taxa de fluxo aproximada de 85L/min é exigida.

Tabela 5. Os Respiradores com Filtração de Partículas Aprovados pelo  Instituto Nacional Americano para Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH-42CFR84) são Definidos por sua Eficiência de Filtração e Características Específicas.

 

  • Resistência à inspiração e expiração: A resistência à respiração é avaliada e deve ser mantida o mais baixa possível com uma taxa de fluxo de ar específica para minimizar o esforço respiratório.

Ao longo de todo o ensaio, a capacidade de filtração do respirador deve permanecer acima do nível de sua classe de certificação durante todo o tempo. Além desses critérios, os respiradores devem ser resistentes à chama, hipoalergênicos e resistentes a fluidos.

Os termos respiradores cirúrgicos N95 e respiradores médicos se referem aos respiradores N95 aprovados pelo NIOSH que também foram validados pelo FDA (Food and Drug Administration) americano para serem usados como máscaras cirúrgicas em instalações médicas. São recomendados apenas para profissionais da saúde que precisam de proteção contra riscos de transmissão tanto pelo ar como por fluidos, comparativamente com outros respiradores N95 ‘ industriais’. Se houver expectativa de respingos, borrifos ou derramamento de sangue ou fluidos em alta velocidade, os respiradores N95 padrão devem ser usados juntamente com os face shields. Os face shields evitam contaminação da superfície e sujeira nos respiradores mas não acrescentam nada à filtração. Alguns modelos de respiradores possuem válvulas de expiração. São desenhados para reduzir a resistência do fluxo expiratório e contribuem com o conforto no uso prolongado de máscara. Entretanto, não protegem outros de exposição em potencial se a pessoa que está usando a máscara estiver infectada.¹²

Como os Respiradores São Projetados para Serem Usados pelos Profissionais da Saúde

O NIOSH subdivide os respiradores em três categorias dependendo de como os filtros são desenhados para uso por profissionais da saúde (Tabela 8).

  • FFRs: Estes são relativamente baratos e leves. São descartáveis, não afetam a mobilidade e não exigem manutenção ou limpeza se forem descartados após um único uso. Não oferecem proteção aos olhos e a vedação abaixo do ideal é um problema para quem tem pelos faciais.

Tabela 6.Norma Europeia EN 149-2001 Definiu as Peças Faciais Filtrantes  (PFFs) em 3 Classes

 

Tabela 7. Critérios de Ensaio para N95 Versus PFF2 Versus KN95. Quanto uma taxa de fluxo inspiratório de 30 L/min é alcançada,  a diferença de pressão atravessando a máscara não deve ser mais que 70 Pa e quando a taxa de fluxo inspiratório atinge 95 L/min, a diferença de pressão não deve ser mais que 240 Pa

 

  • Respiradores elastoméricos (EFRs) com ou sem cobertura para os olhos: Oferecem eficiência de filtração mais alta contra patógenos suspensos no ar e podem ser usados por várias horas, dependendo das especificações do fabricante. Entretanto, são volumosos e podem dificultar a mobilidade e a comunicação. Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) levantaram algumas questões em relação ao uso de respiradores com válvulas em ambientes cirúrgicos, uma vez que a disseminação de gotículas através das válvulas expiratórias ainda representa um risco em potencial.  Alguns recomendam o uso de uma máscara cirúrgica padrão sobre o respirador para minimizar o risco.¹³
  • Respiradores com purificador de ar motorizado (PAPRs): Estes dispositivos oferecem cobertura total da cabeça, incluindo cabelo, olhos, rosto e boca (e até de pescoço em alguns modelos). Eles oferecem uma melhor vedação para indivíduos com pelos faciais, falta de dentes ou cicatrizes no rosto.

 

Tabela 8. Respiradores NIOSH-Aprovados Estão Subdivididos em 3 Categorias

 

Tabela 9. Composição de EPI Recomendada pelo Centro Europeu Para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) para o Manejo de Casos Suspeitos ou Confirmados de 2019-nCoV. O ECDC enfatizou a importância de ensaios ajustados e que um respirador equivalente ao PFF3 deve sempre ser usado ao se realizar procedimentos geradores de aerossóis. Aventais plásticos de uso único podem ser usados por cima de jalecos não resistentes à água no caso de escassez. A Diretriz NB foi atualizada pela última vez em fevereiro de 2020.

 

RECOMENDAÇÕES PARA A COVID-19

As Tabelas 9 e 10 resumem as recomendações do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para EPIs que os profissionais da saúde devem usar ao atenderem pacientes com  COVID-19. A Tabela 11 resume as recomendações do CDC em relação aos EPIs que os profissionais da saúde devem usar ao atenderem pacientes com COVID-10. Ao contrário das recomendações do ECDC e da OMS, as recomendações do CDC levam em consideração a disponibilidade de estoque.14

Tabela 10. Composição de EPI Recomendada pela Organização Mundial da Saúde para o Manejo de Casos Suspeitos ou Confirmados de 2019-nCoV. Uma extensa lista de recomendações também está disponível com várias classificações de situações, equipe de trabalho e atividades.

 

Tabela 11. Três Níveis de Recomendações do CDC Para Uso dos Estoques de EPI

 

Uso Prolongado e Reutilização Limitada de Respiradores

Devido ao aumento dramático na demanda de respiradores N95 ou equivalentes (FFR), muitos países têm adotado estratégias para conservar os respiradores.15 As diretrizes do CDC incluem uma variedade de abordagens para conservar os estoques e, ao mesmo tempo, garantir a segurança dos profissionais da saúde em tempos de escassez. A estratégia mais básica inclui o uso prologado e a reutilização limitada.

Uso prolongado se refere à prática de usar o mesmo FFR continuamente em contatos próximos repetidos com diversos pacientes, sem remover o respirador entre encontros.  Esta prática pode ser implementada quando o mesmo patógeno respiratório infecta múltiplos pacientes e os pacientes estão localizados juntos em enfermarias dedicadas. Os profissionais da saúde podem precisar usar o mesmo por algumas horas até que possam retirá-lo para uma refeição ou ao final do turno.

Reutilização limitada refere-se à prática de usar o mesmo FFR para múltiplos encontros com pacientes, porém retirando-o entre encontros com pacientes. O FFR é guardado entre encontros e colocado novamente antes do próximo encontro com o mesmo paciente ou com um paciente diferente. O número de vezes que o mesmo FFR é reutilizado deve ser restrito e normalmente refere-se a isto como ‘reutilização limitada’.

Embora o uso prolongado e a reutilização limitada estejam sendo praticados por necessidade em muitos países durante a pandemia de COVID-19, o NIOSH especifica que tal prática deve ainda levar em conta a higiene do FFR, danificação e resistência à respiração. Os respiradores FFR ainda devem ser substituídos sempre que estiverem perceptivelmente danificados ou sujos ou se houver dificuldade de respiração devido à resistência aumentada. A Tabela 12 enumera alguns passos recomendados pelo CDC para reduzir a transmissão por contato se a reutilização de N95 ou de respirador equivalente ao FFR for permitida.16

Descontaminação e Reutilização de RFFs

O FDA americano não recomenda a reutilização ou compartilhamento de respiradores N95 descartáveis.17 Entretanto, a descontaminação e reutilização do FFR podem ser consideradas necessárias durante uma crise como a da pandemia de COVID-19, para assegurar disponibilidade continuada. Por isto, o CDC e o grupo N95 DECON sugerem três processos de descontaminação em potencial: peróxido de hidrogênio vaporizado, irradiação germicida ultravioleta e calor úmido.18,19 Independentemente do método utilizado, um FFR individual deve ser devidamente identificado com o nome do usuário e armazenvírusado individualmente. Deve-se manter um registro de descontaminação para que o FFR possa ser claramente identificado e devolvido ao dono.20

Peróxido de Hidrogênio Vaporizado

A descontaminação por vapor e plasma de peróxido de hidrogênio (H2O2) é um método estabelecido de descontaminação industrial usado em hospitais, no setor da saúde e na indústria farmacêutica.21 O vapor de peróxido de hidrogênio (HPV úmido ou VHPe seco) e o plasma de peróxido de hidrogênio (HPGP) inativam patógenos altamente resistentes, entre eles esporos bacterianos e vírus nosocomiais. Em um estudo recente, O Instituto Nacional Americano para Segurança e Saúde Ocupacional oi constatado que este método inativou o SARS-CoV-2 em todas as máscaras do tipo N95 submetidas aos ensaios.22

Uma possível preocupação com relação ao seu uso é que concentrações prejudiciais de peróxido de hidrogênio possam permanecer na máscara por dias após a descontaminação.23 Além disso, ciclos de descontaminação repetidos podem levar à deformação das máscaras e afetar a eficiência de filtração.24

 

Tabela 12. Recomendação do CDC para Reduzir Transmissão por Contato no Caso de Reutilização Permitida de RFF N95 ou Equivalente12

 

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O Sistema de Descontaminação de Bioquell Battelle é um sistema HPV para descontaminação de máscaras N95. O método recebeu autorização do FDA para uso emergencial em 28 de março de 2020 e pode ser usado por 20 ciclos sem degradação da qualidade do filtro ou das alças para o FFR 3M modelo 1860.25 É importante observar que os métodos HPV, VHPe, e HPGP não são compatíveis com celulose, que está ausente nas máscaras N95 modelo1860  da 3M mas que pode estar presente em outros FFR como no modelo 1870 e nas máscaras 1870 da 3M. A presença de celulose é uma consideração importante na adoção de estratégias baseadas em VHP, pois o peróxido de hidrogênio degrada os produtos à base de celulose (ex., algodão, presente em algumas alças de cabeça ou em algumas camadas do FFR). Além disso, a celulose abrorve o peróxidoo de hidrogênio, o que pode diminuir a concentração de vapor de peróxido de hidrogênio nos dispositivos, afetando o desempenho da esterilização.

Irradiação Germicida Ultravioleta

A Irradiation Germicida Ultravioleta (UVGI) utiliza ultravioleta de comprimento de ondas curto, principalmente ultravioleta C (UVC), para matar ou inativar microorganismos através do rompimento do seu DNA e das funções celulares vitais.  A radiação UVC possui o menor comprimento de ondas (100 a 280 nm) e a maior energia se comparada à ultravioleta A e ultravioleta B. A UVGI é um método promissor, porém a eficácia de desinfecção depende dos seguintes fatores.26,27

Dose (Nível de Energia e Duração da Exposição)

A UVGI de 1 J/cm2 foi considerada eficaz na inativação de vários vírus, entre eles o  MERS-CoV e SARS-CoV, na superfície externa da máscara de 99,9% a .99,999% em aproximadamente 60 segundos.26 Uma dose mais elevada de UVC pode aumentar a eficácia em termos de penetração mas pode degradar os materiais e afetar as condições de reutilização.

Efeitos de Sombra

A presença de sombras indica o bloqueio de luz ultravioleta, diminuindo assim a eficiência de descontaminação na área exposta. Este efeito sombra é particularmente relevante para máscaras que têm nervura ou prega horizontal na frente do rosto.26 São necessárias várias lâmpadas UV para facilitar exposição sufciente de diferentes direções. Além disso, produtos cosméticos ou filtro solar deixado na N95 pelo usuário podem reduzir a eficácia de descontaminação.

Composição da Máscara e da Alça

A peça facial FFR e as alças variam em design (ex., material, espessura, formas e elasticidade), o que pode influenciar a eficácia da descontaminação. Como a luz UV age principalmente nas superfícies, a absorção do inóculo viral abaixo da superfície poderia potencialmente proteger o vírus da exposição, limitando assim a eficiência da descontaminação por UVGI. O material hidrofílico tende a absorver tanto mucina como vírus, afetando assim a eficácia da UVGI.26

Tabela 13. Três Tipos de Métodos de Descontaminação

Calor Úmido

Com este método, calor úmido morno (60-758C a 80% de umidade relativa) por pelo menos 30 minutos age como um processo de descontaminação biocida. Este processo tem sido considerado preferencial em relação à esterilização por calor seco. O calor úmido é mais eficaz na eliminação de microorganismos através da desnaturação proteica e menos sujeito a prejudicar o desempenho do filtro.27

O calor úmido tem tido sua eficácia comprovada da desinfecção de FFRs contaminados com H1N1, embora não tenham sido publlicados dados com relação à inativação semelhante no caso de coronavírus e esporos de outras bactérias ou fungos. Embora o CDC tenha lançado diretrizes sobre o uso de calor úmido para descontaminação de FFRs N95 ou equivalentes, este método não é validado pelo FDA e sua utilização deve ser feita mediante cautela.

A Tabela 13 resume as características importantes dos vários processos de descontaminação propostos.

 

CONCLUSÃO

Em geral, as máscaras usadas em ambientes de assistência médica podem ser divididas em dois grupos: máscaras cirúrgicas e FFRs. As máscaras cirúrgicas são de encaixe frouxo e são amplamente usadas para evitar a disseminação de doenças transmissíveis por gotículas como a infecção por SARS-CoV-2. São feitas de materiais nãotecidos e submetidas a ensaios baseados em normas rígidas. Por outro lado, os respiradores são de encaixe firme, têm maior eficiência de filtração e são desenhados para proteger o usuário contra gotículas e também partículas suspensas no ar. Pode ser encontrados na forma de N95, EFRs, ou PAPRs. Devido aos estoques limitados e aumento dramático na demanda, a descontaminação e reutilização de FFRs podem ser necessárias.  Os métodos atuais recomendados para descontaminação incluem irradiação germicida UV, peróxido de hidrogênio vaporizado e descontaminação por calor úmido. Recomenda-se a familiarização com os vários tipos de PGAs em potencial e a escolha do nível de máscara mais adequado com base no risco de exposição.

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