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AUTO-AVALIAÇÃO
Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) antes de cada afirmativa:
- As tonsilas são:
a. ( ) estão localizadas na orofaringe
b. ( ) sua drenagem venosa é para o plexo faríngeo
c. ( ) são supridas pelo nervo hipoglosso
d. ( ) estão localizadas anteriormente à artéria carótida interna
e. ( ) são constituídas por tecido linfóide - A tonsilectomia é uma indicação absoluta em:
a. ( ) obstrução da via aérea superior
b. ( ) história familiar de tonsilectomias
c. ( ) otite recorrente
d. ( ) tonsilite aguda
e. ( ) tonsilite recorrente associada a convulsões febris - O sangramento pós-tonsilectomia:
a. ( ) pode ser associado à técnica cirúrgica utilizada
b. ( ) não é uma emergência
c. ( ) pode requerer ressuscitação hídrica antes da indução da anestesia
d. ( ) não requer indução em sequência rápida em caso de reoperação
e. ( ) requer que seja inserida uma sonda nasogástrica de grosso calibre anteriormente à indução - A respeito das complicações após tonsilectomia:
a. ( ) a analgesia multimodal é desnecessária
b. ( ) os anti-inflamatórios não-esteroidais estão contra-indicados
c. ( ) os corticóides não têm utilidade na tonsilectomia
d. ( ) a dor persiste por 6 a 10 dias após tonsilectomia
e. ( ) o uso de anestésicos locais é uma prática bem estabelecida - Sobre as técnicas cirúrgicas:
a. ( ) o uso de cauterização diatérmica para dissecção é a técnica preferida
b. ( ) dissecção romba a frio apresenta piores resultados
c. ( ) o uso de cauterização diatérmica é associado a maior dor pós-operatória
d. ( ) o abridor de boca de Boyle-Davis facilita o acesso cirúrgico
e. ( ) a adenotonsilectomia é uma forma estabelecida de tratamento para apnéia obstrutiva do sono.
SUMÁRIO
- Introdução
- Anatomia e função
- Indicações cirúrgicas
- Avaliação pré-operatória
- Manuseio Intra-operatório
- Manuseio Pós-operatório
- Complicações
- Outras considerações
- Controvérsias e perspectivas futuras
INTRODUÇÃO
A tonsilectomia é um procedimento cirúrgico inicialmente descrito na Índia, em 1000 AC. Apesar de não ser realizada tão frequentemente quanto anteriormente, ela continua sendo um procedimento comum principalmente em crianças. As indicações e técnicas cirúrgicas permanecem controversas.
ANATOMIA E FUNÇÃO
A tonsilectomia é definida como a excisão cirúrgica das tonsilas palatinas, que são estruturas de tecido linfóide recobertas por epitélio respiratório e invaginadas de maneira a formar criptas. As tonsilas são em número de 3: a tonsila lingual, a tonsila faríngea (adenóide) e a tonsila palatina1.
Essas estruturas localizam-se na lateral da orofaringe. O ramo tonsilar da artéria facial é a sua principal fonte de irrigação, enquanto a drenagem venosa ocorre através de um plexo circunjacente à tonsila, que drena para o plexo venoso faríngeo. A veia palatina externa desce a partir do palato mole e adentra o leito tonsilar. Essa grande veia é geralmente a origem da hemorragia venosa pós-tonsilectomia1.
A inervação é feita pelo nervo glossofaríngeo e nervos palatinos menores. Estruturas importantes que se localizam profundamente ao pólo inferior da tonsila incluem o nervo glossofaríngeo, a artéria lingual e a artéria carótida interna.
As tonsilas são tecido linfóide e, portanto, estão envolvidas na produção de linfócitos e síntese de imunoglobulinas. Acredita-se que tenham um papel no sistema imunológico; porém, quando doentes, considera-se que esse papel deixa de ser significativo.
INDICAÇÕES CIRÚRGICAS
As indicações cirúrgicas podem ser absolutas ou relativas.
As indicações absolutas para cirurgia são:
- Obstrução da via aérea superior, disfagia e apnéia obstrutiva do sono.
- Abscesso peritonsilar irresponsivo a tratamento clínico e drenagem cirúrgica adequados.
- Tonsilite recorrente associada a convulsões febris.
- Necessidade de biópsia para confirmar a patologia do tecido2.
As indicações relativas incluem:
- Tonsilite recorrente irresponsiva a tratamento clínico. O Royal College of Surgeons do Reino Unido sugere que os seguintes critérios devem ser preenchidos antes de proceder à tonsilectomia secundária a tonsilite:
- Dor de garganta secundária a tonsilite.
- Mais de 5 episódios de tonsilite em um ano.
- Presença de sintomas por mais de um ano.
- Episódios gravemente incapacitantes de faringite3.
- Mau-hálito persistente e gosto ruim na boca devido a tonsilite crônica.
- Tonsilite persistente em paciente colonizado por Streptococcus sp. produtor de beta- lactamase e irresponsivo a antibióticos associados a inibidores da beta-lactamase.
- Suspeita de etiologia neoplásica2
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Anamnese e exame físico completos são mandatórios para qualquer paciente admitido para tonsilectomia. Em todas as crianças, a presença de sopros cardíacos deve ser descartada. Deve-se também dedicar atenção especial à procura de evidências de apnéia obstrutiva do sono.
Apnéia Obstrutiva do Sono
Em crianças, a hipertrofia adenotonsilar é a causa mais comum de apnéia obstrutiva do sono. Os sinais e sintomas incluem hipoxemia crônica manifestada por policitemia e por padrão eletrocardiográfico de sobrecarga do ventrículo direito (ondas P largas nas derivações DII e V6, ondas R pronunciadas e S profundas em V6). Os sintomas noturnos incluem roncos, curtos episódios de apnéia seguidos de grunhidos e de inquietação. Os sintomas diurnos incluem cefaléia, cansaço matinal e sonolência diurna excessiva2. O uso de narcóticos no período perioperatório pode prejudicar o estímulo ventilatório e piorar a hipóxia em pacientes sob ventilação espontânea4.
A visita pré-operatória deve ainda excluir evidências de infecção ativa, avaliar a presença de mobilidade dentária e obtenção do consentimento para analgesia perioperatória.
Analgesia Pré-Operatória
Deve-se ponderar sobre a analgesia pré-operatória, que pode ser administrada por via oral na enfermaria. As seguintes medicações e doses são apropriadas para pacientes pediátricos:
- Paracetamol 20mg/kg por via oral
- Ibuprofeno 5mg/kg por via oral
MANUSEIO INTRA-OPERATÓRIO
Indução e manutenção da anestesia
- A indução da anestesia pode ser intravenosa ou inalatória.
- O manuseio da via aérea pode ser feito com intubação traqueal, preferivelmente com tubo pré-moldado ou aramado, ou uma máscara laríngea aramada.
- A indução inalatória é frequentemente desafiadora devido à incidência de obstrução da nasofaringe pela adenóide.
- Pode-se utilizar um agente intravenoso para a indução, como propofol (1,5-2,5mg/kg) ou tiopental (2-7mg/kg).
- O estabelecimento da via aérea pode ser feito sob anestesia profunda ou utilizando um bloqueador neuromuscular.
- A escolha do bloqueador neuromuscular deve levar em consideração a duração da cirurgia e o modo de ventilação a ser utilizado.
- A ventilação pode ser espontânea ou controlada.
- A maioria das crianças pode ser intubada usando succinilcolina (0,5-2,0mg/kg) ou um agente adespolarizante de curta ação, como o mivacúrio (0,1-0,2mg/kg) e mantida sob ventilação espontânea através do tubo traqueal.
Posicionamento do paciente e acesso cirúrgico
- O paciente deve estar em posição supina
- Procede-se à extensão do pescoço e colocação de um coxim sob os ombros.
- O uso de um abridor de boca, comumente o de Boyle-Davis, melhora o acesso cirúrgico.
- A tonsilectomia envolve manipulação cirúrgica na via aérea, então certifique-se de que o tubo endotraqueal está bem fixado na linha média.
- Assegure-se de que a via aérea artificial não seja obstruída ou deslocada pelo cirurgião durante a inserção ou remoção do abridor de boca de Boyle-Davis.
- O cirurgião pode utilizar uma das técnicas a seguir:
- Dissecção a frio com pontos ou gazes para hemostasia.
- Dissecção a frio utilizando coagulação diatérmica bipolar para hemostasia.
- Dissecção com cauterização diatérmica unipolar ou bipolar (400-600°C) tanto para dissecção quanto para hemostasia.
- Coblação, ablação a frio que utiliza eletrocirurgia a baixas temperaturas (60-70°C) tanto para dissecção quanto para hemostasia.
- A incidência de complicações pós-operatórias depende da técnica cirúrgica empregada:
- A dissecção a frio apresenta menor risco de hemorragia pós-operatória.
- O uso de cauterização diatérmica aumenta o risco de hemorragia pós-operatória.
- A ampla utilização de cauterização diatérmica está associada a maior incidência de dor pós-operatória.
- O acesso venoso é essencial, apesar de que a hidratação venosa (10-20ml/kg de solução cristalóide) nem sempre é necessária.
- Certifique-se de que os olhos estão fechados e protegidos.
Analgesia Intra-operatória
Deve-se considerar o uso de opióides:
- Morfina (0,1mg/kg)
- Fentanil (1-5μg/kg)
- Petidina (0,5-2,0mg/kg, por via intramuscular)
O uso de antieméticos também deve ser avaliado:
- Ondansetrona (0,1mg/kg)
- Dexametasona (0,15-1,0mg/kg em crianças)
Emergência da Anestesia
- A aspiração cautelosa da orofaringe sob visualização direta assegura uma via aérea livre de secreções ao final da cirurgia, e limita o dano ao leito tonsilar.
- A ventilação espontânea adequada é essencial antes da extubação.
- Extube o paciente em decúbito lateral esquerdo com cefalodeclive discreto.
- A extubação deve ser realizada após o retorno dos reflexos de proteção da via aérea (i.e., extubação com o paciente acordado) e assim que o paciente esteja em condições compatíveis com as habilidades dos responsáveis pelos cuidados na sala de recuperação.
MANUSEIO PÓS-OPERATÓRIO
- Administre oxigênio até a recuperação completa
- Analgesia pós-operatória:
- Opióides na recuperação se necessário, idealmente utilizando a mesma droga administrada no período intra-operatório.
- Paracetamol administrado em horários regulares.
- Ibuprofeno administrado em horários regulares.
- Vigilância para evidências de sangramento pós-operatório.
- Avaliações frequentes do pulso, da pressão arterial, da frequência respiratória e da presença e intensidade da dor.
COMPLICAÇÕES
- Dor
- Náuseas e vômitos
- Sangramento
Sangramento pós-tonsilectomia
Essa é uma complicação grave, que pode ocorrer na sala de recuperação ou horas depois. Deglutição persistente é um indicador precoce de sangramento do leito tonsilar. O volume da perda sanguínea não pode ser mensurado e o paciente pode estar hipovolêmico e necessitar de ressuscitação hídrica antes da indução da anestesia para revisão da hemostasia.
O anestesista deve considerar:
- O estômago do paciente pode estar repleto de sangue e, portanto, pode existir risco significativo de aspiração.
- A intubação pode ser difícil devido à presença de sangue na via aérea e edema resultante da intubação anterior4.
A ressuscitação hídrica pode ser necessária. Deve-se avaliar o status volêmico do paciente antes da indução da anestesia.
- Nível de consciência/Escala de Coma de Glasgow
- Tempo de enchimento capilar
- Frequência cardíaca
- Débito urinário
A pressão arterial em pacientes saudáveis não é um bom indicador do volume intravascular, já que a sua diminuição somente acontece quando o paciente está profundamente hipovolêmico.
Manuseio do sangramento pós-tonsilectomia
- Um anestesista experiente deve estar presente.
- Acesso venoso e ressuscitação hídrica antes da indução.
- A intubação em sequência rápida proporciona intubação rápida enquanto protege a via aérea durante a indução, e é a técnica de escolha. Alguns anestesistas preferem indução inalatória realizada com o paciente em decúbito lateral esquerdo, em céfalodeclive.
- A inserção de sonda nasogástrica de grosso calibre para esvaziar o estômago pode ser feita antes ou depois da cirurgia. Assegure-se de que o estômago tenha sido esvaziado antes da extubação.
- Extube o paciente em decúbito lateral esquerdo, em discreto céfalodeclive.
- O paciente deve permanecer na sala de recuperação por um período prolongado para que se possa assegurar que o sangramento tenha parado.
- Deve-se medir a concentração de hemoglobina no sangue e a coagulação no período pós-operatório.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Corticóides e tonsilectomia
O uso de dose única de dexametasona (0,15-1,0mg/kg) em crianças é associado à redução na incidência de náuseas e vômitos após tonsilectomia e a melhor recuperação quando comparada com placebo. Esse é um tratamento efetivo, seguro e barato6a.
Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs)
Não há evidências de que o uso de AINEs para analgesia pós-tonsilectomia aumente a incidência de sangramento. Há algumas evidências sugerindo que a incidência de náuseas e vômitos é reduzida com o uso de AINEs6b.
Anestésicos locais no leito tonsilar
Não há evidências suficientes de que o uso de anestésicos locais reduza a dor pós-operatória6c.
Variante da Doença de Creutzfeld-Jacob
Os príons, agentes proteicos que são variantes das proteínas príon do cérebro normal, acumulam-se no tecido linfóide e não são adequadamente destruídas pela esterilização cirúrgica. Portanto, a transmissão entre pacientes de condições causadas por príons é uma possibilidade real. Instrumentos para uso único foram desenvolvidos no Reino Unido em 2001, porém isso resultou em aumento da hemorragia pós-operatória. Essas recomendações foram então reavaliadas e decidiu-se retomar o uso instrumentos reutilizáveis.
CONTROVÉRSIAS E PERSPECTIVAS FUTURAS
- Pesquisas sobre a tonsilectomia continuam frequentes. A técnica ideal ainda não é conhecida e há divergências sobre a sua segurança como procedimento ambulatorial.
- No tratamento da obstrução da via aérea secundária a hipertrofia tonsilar, a tonsilectomia utilizando laser pode ser efetiva e menos dolorosa que a tonsilectomia tradicional, porém a efetividade desse método não foi demonstrada por ensaios clínicos2.
- A indicação para tonsilectomia como tratamento de faringite recorrente é controversa. Não há evidências de que a tonsilectomia reduza a incidência de faringite nesse grupo de pacientes6d.
- A adenotonsilectomia como tratamento aprovado para apnéia obstrutiva do sono em crianças carece de evidências suficientes.
REFERÊNCIAS
- McMinn RMH. Last’s Anatomy, regional and applied. 9th ed: p 490-491
- Drake A, Carr MM. Tonsillectomy. June 2005. www.emedicine.com
- Scottish Intercollegiate Guidelines Network. Management of sore throats and indications for tonsillectomy. SIGN publication No. 34. Disponível em http://www.sign.ac.uk
- Allman KG, McIndoe AK, Wilson IH. Emergencies in Anaesthesia: p 424
- Royal College of Surgeons. National Prospective Tonsillectomy Audit. Final report of audit carried out in England and Northern Ireland from July 2003 to September 2004.
- The Cochrane Library. Disponível em http://www.mrw.interscience.wiley.com
- Steward DL, Welge JA, Myer CM. Steroids for improving recovery following tonsillectomy in children. 2006
- Cardwell M, Siviter G, Smith A. Non-steroidal anti-inflammatory drugs and perioperative bleeding in paediatric tonsillectomy. 2005.
- Hollis LJ, Burton MJ, Millan JM. Peri-operative local anaesthetic for reducing pain following tonsillectomy. 1999.
- Burton MJ, Towler B, Glasziou P. Tonsillectomy versus non-surgical treatment for chronic/recurrent acute tonsillectomy. 1999.
- Lim J, McKean M. Adenotonsillectomy for obstructive sleep apnoea in children. 2001.
- Department of Health Press release. 14/12/2001. The re-introduction of reusable instruments for tonsil surgery. Disponível em http://www.dh.gov.uk
RESPOSTAS DA AUTO-AVALIAÇÃO
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